Coletivo Ma'enduara
Pela preservação do patrimônio cultural dos povos do Território Indígena Tupinikim-Guarani.
Carta de Apresentação
Por Isabella Gomes Santos
De origem Tupi, a palava “ma’enduara” significa “memória”. O Coletivo Ma’enduara trata-se de um projeto cujo propósito foi documentar uma história coletiva por meio de vivências e memórias de indivíduos pertencentes ao Território Indígena Tupinikim-Guarani.
Origem
Originalmente, o Coletivo Ma’enduara foi um projeto concebido e apoiado pela Oficina Mbómonhang. Também do Tupi, mbómonhang significa “feito à mão”. O termo nomeava uma iniciativa de se criar um coletivo de artistas na aldeia Pau Brasil, Território Indígena Tupinikim-Guarani, Aracruz, ES. A Oficina Mbómonhang tinha por objetivos expressar sua identidade cultural, apoiar o desenvolvimento comunitário e promover saúde por meio da arte.
Propósito
A vida de um povo depende da sua identidade coletiva. Os povos indígenas brasileiros sofrem com a constante ameaça da aculturação e muitos lutam incessantemente pelo seu modo de existir no mundo.
Ao materializar as histórias de pessoas do Território Indígena Tupinikim-Guarani, buscamos preservar e perpetuar saberes, crenças e costumes dos povos que vivem nesse território, valorizando os seus modos de saber, fazer e viver.
Assim, esperamos apoiar a luta indígena pela vida à sua maneira, e somar à luta por uma cultura que valorize, respeite e reflita a diversidade.
Objetivos
- Criar um acervo permanente e acessível dos povos indígenas capixabas.
- Fomentar uma cultura que valorize, respeite e reflita o pluralismo e a diversidade de expressão.
- Apoiar a luta indígena pelos seus direitos.
Método
Trata-se de um trabalho colaborativo, que busca integrar saberes e linguagens tradicionais e contemporâneos, valorizando o protagonismo das formas expressivas indígenas.
Neste projeto – elaborado e executado por um coletivo de artistas independentes e voluntários, indígenas e não-indígenas – visamos criar registros, com as mais diversas perspectivas e linguagens artísticas, do conhecimento, história e vida dos povos do território Tupinikim-Guarani. Desenvolvemos diversas modalidades artísticas, como fotografia, pintura e produção audiovisual.
Em 2022, iniciamos a pesquisa de campo e registros, em imagens e vídeos, de relatos de residentes no TI Tupinikim-Guarani. No total, foram nove visitas em cinco das doze aldeias do território (Pau Brasil, Caieiras Velha, Olho d’água, Nova Esperança e Boa Esperança), e 16 entrevistados. Todos os depoimentos e entrevistas foram realizadas com a devida autorização das lideranças locais e consentimento livre e esclarecido do entrevistado, registrado no formato de vídeo. A pesquisa foi conduzida de forma livre, sem roteiro pré-estabelecido para as entrevistas. Dessa maneira, buscamos garantir que a narrativa não fosse conduzida ou pré-estabelecida, mas sim que surgisse de forma espontânea, a partir das histórias compartilhadas por aquelas pessoas selecionadas. Em relação aos entrevistados, também tomamos o cuidado de não afunilar os critérios de seleção, de forma a ampliar a amostragem de perspectivas. Assim, buscamos garantir a diversidade e representatividade no discurso, ampliar as questões em discussão e promover também um diálogo intergeracional. Em relação à ambiência, as gravações foram realizadas principalmente em áreas externas, considerando a importância narrativa da paisagem do território e da vivência dos entrevistados.
Filme
O filme média-metragem de caráter documental foca na história da luta pelo reconhecimento identitário e pela demarcação do território indígena Tupinikim-Guarani, ao norte do ES.
A narrativa foi construída de forma livre e colaborativa, a partir de relatos de entrevistados durante a nossa pesquisa de campo, e transita entre os temas de identidade, território e impactos socioambientais que afetam a vida das comunidades indígenas capixabas.
Optar pela produção audiovisual como principal forma de registro e produto do projeto fundamentou-se na busca por integrar saberes e linguagens tradicionais e contemporâneos, valorizando o protagonismo das formas expressivas indígenas, muito pautadas pela oralidade e transmissão do conhecimento intergeracional pela contação de histórias e pela arte.
Impactos
A experiência de colaboração intercultural na concepção e condução desse projeto tem gerado trocas de saberes importantes entre os colaboradores não-indígenas e indígenas do coletivo, contribuindo para o fomento da produção audiovisual e artística no território.
Além disso, a troca de saberes proporcionada por esse trabalho tem suscitado reflexões em diversos aspectos, como a interculturalidade, a arte contemporânea e seu papel social, equilíbrio de poder e autonomia dos povos na construção de narrativas a seu respeito, e a valorização da cultura dos povos tradicionais brasileiros. Aos membros não-indígenas do coletivo, em especial, tem permitido a aproximação da realidade, cultura e história dos povos Tupinikim e Guarani, contribuindo para a formação desses artistas e para a prática docente. Aos membros indígenas, por sua vez, esse projeto tem viabilizado uma das várias iniciativas internas de trabalho documental a partir da produção audiovisual e fotografia, contribuindo para a aquisição de conhecimentos técnicos básicos e acesso a equipamentos. Ademais, essa pesquisa etnográfica permitiu aos próprios integrantes indígenas do coletivo o aprofundamento e descoberta de novos aspectos da sua história e cultura.
Acreditamos na importância de tal trabalho documental para a preservação da cultura local, seja por meio da construção de materiais a serem utilizados na educação indígena ou para compor um acervo para exposição nos centros de cultura do território, e outros fins determinados pela comunidade.
Financiamento
O projeto foi financiado pela Secult e governo do Estado, como um dos projetos selecionados pelo edital nº 04/2022 para projetos de valorização das culturas tradicionais do Espírito Santo.





